A busca pela ancestralidade levou a artista Juliana Russo Burgierman à Lódz e à Varsóvia, na Polônia, em 2022, quando se iniciaram os ataques da Rússia contra a Ucrânia. Instigada por uma visita inusitada, por sonhos e pela poesia de Wisława Szymborska, suas caminhadas pelas cidades − um dia arrasadas pela Alemanha nazista − resultou na criação da novela gráfica O fim e o começo, que tem lançamento previsto para março deste ano. O avô de Juliana era um jovem judeu e comunista quando chegou ao Brasil, na década de 1920. Durante a Segunda Guerra Mundial, teve três de suas quatro irmãs assassinadas no gueto de Lódz, sua cidade natal. A irmã sobrevivente do holocausto fugiu para a União Soviética, em 1941, tendo nos braços a filha de dois meses de idade, agora octogenária. Ludwika e o marido estiveram em São Paulo, em 2016, para uma visita à família Burgierman, sobrenome extinto na Polônia.
“Foi interessante encontrar parentes tão próximos e tão distantes. Sem que tivéssemos nada em comum, éramos tão familiares”, relembra a artista. Ela conta que aquele encontro foi suficiente para despertar a conexão com seus ancestrais do leste do mundo. As primeiras ideias para o terceiro livro de Juliana Russo Burgierman surgiram inspiradas por esta busca. No início de 2017, ela participou do Retiro dos Artistas, no Polin Museum, em Varsóvia, e aproveitou a oportunidade para visitar a família. Na mesma viagem, conheceu o poema Fim e começo (“Koniec i początek”), de Wisława Szymborska, sobre esquecimento e regeneração, que inspirou Juliana Russo Burgierman. “E tudo se encaixou”, ressalta a autora da novela gráfica O fim e o começo.
Sonho e poesia em O fim e o começo, a autora busca construir pontes entre dois tempos, por meio de desenhos que registram paisagens e espaços visitados nesta jornada de regresso às origens. Com recursos básicos, papel e grafite, ela retrata vazios, silêncios, resíduos de memória, resquícios de um passado e busca “alguma reconexão e reparação de uma ancestralidade perdida”. A pesquisa para este novo livro foi parcialmente financiada pela Asylum Arts, de Nova Iorque, rede apoiadora da cultura judaica em todo o mundo. A caminhada se mantém como meio de acesso de Juliana ao objeto de pesquisa, que mais uma vez é a Cidade, como em seus dois primeiros livros publicados.
“Tirei algumas fotos que me fizeram pensar na presença do meu corpo naquele local, no regresso a um ‘território proibido’ depois de três gerações”, conta ela. Na apreciação das imagens, a escassez de pessoas dá amplitude à desolação do ambiente urbano, ao mesmo tempo em ruínas e em obras. Através de janelas, fissuras, arcos, o desenho insinua revelar o que está por trás ou o que não está exatamente diante dos olhos. Como plantas medicinais endêmicas daquela região também flagradas pela artista e capturadas pelo seu desenho. Dialogando com o poema da escritora polonesa, a narrativa de dois sonhos abre e fecha a publicação, criando uma lacuna por onde a autora cria conexões, significados, rotas. “Muitos caminhos moram dentro dos símbolos contidos no sonho. E esse foi o percurso que eu fiz”, reflete Juliana.
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
O Fim e o Começo
Autora: Juliana Russo Burgierman
Editora: Sala Aberta
ISBN: 978-65-00-57716-7
Idioma: Português
Altura: 18 cm
Largura: 13 cm
Edição: 1ª
Ano de lançamento: 2023
Número de páginas: 100
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