“Estamos em 2100 e muita coisa mudou. Mas nem tudo.
Entre as Fiandeiras de Velázquez e maquetes 6D, esculturas e corpos criogenizados, adentramos um século em que a conexão humana com o digital foi levada às últimas consequências: a Amazon possui um exército, e o Google, um ‘Google Bodies’. Século em que a autonomia sobre o próprio corpo continua um tabu – ainda se luta pelo direito ao aborto, inicia-se a cruzada pelo direito a implantes –, ao passo que permanecem em voga governos mentirosos e violentos, a manipulação das informações ou mesmo os casamentos em Las Vegas.
Nas páginas iniciais, a sensação é de que estamos diante de uma não ficção. Lemos sobre Charles Babbage, Ada Lovelace, Alan Turing, porcelanas chinesas, cobertas apaches, objetos históricos. O tempo narrado ultrapassa com naturalidade o ano de 2024. Surgem novas décadas: 2030, 2050, 2090. Enraizada nos anos 2010, tempo da explosão das redes e do nascimento de personagens importantes da narrativa, Membrana vai tomando conta, entretecendo-se com o real. Espelhando o que ocorre na narrativa, tudo parece verdadeiro, tudo parece invenção. A inteligência humana já não é suficiente para diferenciar. Hiper-realidade.
Como em um museu, é saudável a caminhada por entre as instalações. Aqui, a velocidade da página parece ser a do 7G do século 21 de Jorge Carrión. Não permite refletir sobre eventos, objetos, documentos. É preciso o tempo do museu. Respirar, divagar entre as páginas.
Se Membrana parece experimento narrativo – e é –, também traz no DNA a tradição do romance. Personagens ganham corpo – virtual ou físico –, amores e traições híbridas movimentam decisões históricas e pessoais, e até um jogo de espionagem e contraespionagem algorítmica é capaz de decidir os destinos do planeta. Mas Carrión, entre tanta invenção, parece fazer uma aposta – na permanência do museu como instituição e institucionalidade, e da narração como meio para existir: contar a própria história como direito à existência – ‘não és livre enquanto não narras a ti mesmo’ –, assim nos lembram as inteligências que narram Membrana.”
Reginaldo Pujol Filho
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
Membrana
Autor: Jorge Carrión
Tradução: Michelle Strzoda
Editora: Relicário
ISBN: 978-65-89889-95-3
Idioma: Português
Altura: 21 cm
Largura: 14 cm
Edição: 1ª
Ano de lançamento: 2024
Número de páginas: 200
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